top of page

(breve) DRAMATURGIA:

Jean Genet

Quando falamos de dramaturgia, no contexto da Era Contemporânea, falamos de uma renúncia à ideia clássica de narração, onde todas as estórias têm um princípio, meio e um fim. E é também a respeito desta ideia que nasce esta adaptação, um filme que obriga o público a uma constante suposição de factos, e a aceitar a ideia de contradição (inerente à condição humana).
  • O texto faz parte da esfera do absurdo e por isso temos de perceber o Universo do autor, para aceitarmos a forma como vivem, vêem e sentem as personagens deste drama. É preciso também compreender e aceitar o conceito  de EPOCHÉ, que defende a suspensão de um julgamento dogmático e que nos propõe ponderar e aceitar todas as possíbilades.

 

  • O Universo que Jean Genet cria, é fruto das suas experiências de vida intensas e perigosas; desde muito cedo que se viu forçado a fazer parte do mundo criminoso para sobreviver, mas nunca com uma postura frágil, sempre firme como um herói, um rei; e é essa mesma força animal, essa vontade de viver a vida no limite das emoções, que faz parte da natureza das personagens deste filme.

 

  • Estas irmãs são ambiciosas, vivem à procura do perigo, do êxtase, elas amam-se, não serão capazes de viver uma sem a outra, fazem sexo uma com a outra; querem alcançar um estatuto social mais elevado, ser respeitadas e amadas, e para isso pactuam com o diabo: em troca da morte da patroa (sacrifício), as irmãs terão uma nova vida, repentinamente, “transformam-se” noutra pessoa (ou pelo menos é nisso que acreditam).

    Esta reencarnação resulta na subida de estatuto social de cada personagem, sendo que cada vez que uma personagem chega ao topo da pirâmide (o fim da corrida – a morte), ela será eliminada, e no estatuto inicial surgirá um novo ser, repetidamente e sem fim. Um jogo teatral e macabro, infinito, como mostra o gráfico em baixo.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

CLARA

SOLANGE

A SENHORA

MORTE

Curiosidades:

  • Jean Genet foi um autor Francês, que desde muito cedo fez parte do mundo criminoso, foi ladrão, e por isso muitas das suas obras foram escritas em prisões, onde ele aceitava ter relações sexuais com reclusos e guardas de cela em troca de papel e caneta para poder viver no mundo das letras.

 

  • Porquê o enredo ter três personagens femininas, mas duas delas serem interpretadas por homens?  Numa das suas últimas entrevistas, Jean Genet afirmou que as personagens da sua obra -AS CRIADAS- deveriam ter a força de dois homens, pelas hormonas e a estrutura físicas naturais dos corpos, sempre mais fortes e agressivas que no sexo feminino.

 

  • No suposto romance de Jean Genet (que é sem dúvida alguma uma autobiografia) “Diário de um Ladrão”, está escrito e descrito o Mundo como Jean Genet o vê e sente: percebemos que o perigo e que o quebrar das regras o excitavam, que o lembravam de estar vivo. Uma autobiografia onde utiliza metáforas para descrever cenas mais bizarras, ousadas e perigosas. E é esta forma de ver o mundo, tão estranha, que ”envenena” a atmosfera d’As Criadas.

  • Para além de guerrearem neste ritual diário, um ensaio do crime que querem perpetrar, estas irmãs vivem no limbo entre o mundo real que as cerca e um mundo de fantasia, que as resgata das suas vidas medíocres. Mas estas fantasias são ambíguas e confundem-se cm a realidade. O espectador decide se aquilo que as personagens contam é verdade ou se é tudo uma mentira, um jogo, um teatro.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

bottom of page